quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Os Bons Companheiros - Parte 3


O vento atravessou a floresta como uma onda. Soprou violentamente, quebrando galhos e arrancando árvores centenárias pela raiz. Pássaros foram arremessados de lado para outro, caindo mortos ao chão. Um cervo morreu, fulminado por um raio.
Casas e celeiros tiveram seus telhados arrancados, e uma família morreu quando sua casa desmoronou devido à força do vento. Janelas e vidros se estilhaçaram, permitindo que o vento corresse livre, causando caos dentro das casas.
Cacos de vidro voaram, e os clientes da Estalagem do Velho Crânio ergueram os braços para proteger os olhos. Alguns jogaram-se ao chão, assustados com o rugido feroz do vento, pensando talvez tratar-se de algum tipo de ataque. As portas foram escancaradas pelo vento, e alguns dos homens mais corajosos saíram do prédio para ver o que acontecia lá fora.
No céu, nuvens negras iluminavam-se em tons de roxo e branco, enquanto relâmpagos malignos corriam de ponta a outra na tempestade assustadora.
E, tão súbito quanto começou, o vento parou. As nuvens continuavam sobre os vales, os trovões ribombando graves, fazendo vibrar toda a terra. Raios ainda iluminavam a noite, dando vislumbres da destruição causada pelo vento.
Alguém xingou, dizendo que somente magia poderia criar algo como aquilo, enquanto vários homens levantavam-se apressados, preocupados demais com suas famílias e casas, deixando moedas sobre as mesas e partindo rapidamente.
Jhaele saiu para a rua e virou-se para olhar sua estalagem. Todas as janelas estavam quebradas, e parte do telhado tinha ido embora. A placa estava retorcida, imprestável. Ela e seus filhos teriam muito trabalho pela manhã.
_ Vejo que meu quarto foi atingido, senhora. Não consigo imaginar um motivo pelo qual devo pagar para dormir em uma taverna se não haverá um teto sobre minha cabeça. _ o jovem, que antes estava ao balcão fingindo beber, a fitava, curioso.
_ Tenho certeza de que encontraremos uma solução, senhor. Sinto dizer, mas todos os outros quartos estão lotados. Posso oferecer uma cama extra em algum outro quarto. Pelo transtorno, a hospedagem fica por conta da casa.
O homem olhou-a, pensativo. Olhou mais uma vez para o telhado destruído, e por fim deu de ombros, caminhando de volta para dentro da estalagem.
_ Que seja. _ disse, em tom indiferente.

O gnomo e o rapaz olhavam os estragos à partir da janela. Não ousavam sair da mesa e arriscar-se a perder o que ainda restava da refeição. Compraram-na com as últimas moedas que carregavam na algibeira, e não conseguiam imaginar quando haveria dinheiro para outras refeições quentes.
_ Precisamos arranjar algum trabalho, Lagosh. Ou acabaremos comendo rãs e raízes. _ o gnomo espetou o último pedaço de queijo com uma faca.
_ Não vi nenhum mural com ofertas de trabalho. O povo daqui parece não estar acostumado com espadas de aluguel. _ o jovem humano olhou contrariado enquanto o gnomo mastigava o queijo.
_ Realmente. Nada de murais. E nada de moedas. _ o gnomo virou a caneca, vazia. Esperava que ainda houvesse um gole de cerveja ali, mas apenas umas poucas gotas chegaram à sua boca.
_ Senhores, com licença _ a mulher de cabelos brancos, dona da estalagem, aproximou-se. _ Peço desculpa, mas preciso conversar com os senhores.
Os dois se entreolharam, e esperaram que a mulher continuasse.
_ Os ventos fortes estragaram parte de nosso telhado, deixando um de nossos hóspedes sem o seu quarto. Não posso mandá-lo embora, nem pedir que durma em um quarto sem telhado. A única solução seria colocá-lo em outro quarto, mas estamos lotados. Assim, precisaria acomodar uma cama para ele em algum outro quarto, e o único suficientemente grande é o que os senhores alugaram.
A mulher, parecendo um tanto embaraçada, continuou.
_ Se os senhores permitirem, pedirei para que seja colocada mais uma cama em seu quarto, para que este hóspede possa dormir lá. Como compensação pelo transtorno, sua hospedagem será por conta da casa.
Rapaz e gnomo trocaram novos olhares, e o pequeno logo respondeu:
_ Senhora, veja bem nossa situação. Um estranho, que não conhecemos, dormindo em nosso quarto. Sinto-me até preocupado. E se for algum tipo perigoso. Como ficamos?
A mulher encarou o gnomo. Olhou para o rapaz que o acompanhava, bem como para a pequena porção de comida pedida pelos dois.
_ Senhores, tenho certeza de que o outro hóspede não oferecerá qualquer incômodo, quanto mais perigo. Ainda assim, disponibilizarei mais um baú com cadeado para os senhores. Além disso, posso ainda oferecer como cortesia as refeições de hoje, e também as de amanhã.
O gnomo engoliu o sorriso, tentando parecer preocupado.
_ Senhora, aceitaremos, mas apenas para ajudá-la.
A mulher assentiu, porém um pouco incomodada. Foi então apresentar à solução ao hóspede cujo quarto fora destruído.
E gnomo e rapaz riram, enquanto erguiam as canecas, pedindo mais uma rodada de cerveja.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Deixando a Montanha

E foi assim que Edgard Brightblade me relatou a fuga das Montanhas Boca do Deserto, em companhia dos Bons Companheiros e dos Irmãos do Trovão.

"Enquanto saíamos das ruínas anãs pelo túnel que havíamos entrado eu já não esperava ver mais vespas, nosso batedor e o mestre da floresta já haviam dito que elas não ficariam por muito tempo. Ainda estávamos cansados da batalha anterior e esperávamos ver apenas os corpos dos insetos que deixamos abrindo nosso caminho de entrada, porém isso também não aconteceu desta forma.
O cheiro de cera derretida penetrava minha cabeça, dificultava minha concentração e uma espécie de náusea tomou conta de mim, não apenas a cera, algo a mais, uma espécie de muco queimado, um odor de enxofre, como quando aquele sacerdote vinha abençoar nossa casa, em Inverno Remoto, repetidas vezes na minha infância e também outro cheiro, um fedor de ácido, algo parecendo carne podre, um cheiro que eu já havia sentido, mas onde? Não havia nada vivo ali, fora a cera derretida, as teias queimadas e algumas brasas no que eu imaginava serem corpos das vespas, havia apenas a esperança de luz na saída do túnel, luz essa que não existia.
Ao chegarmos do lado de fora já começava a anoitecer, quanto tempo haveríamos ficado dentro da caverna? Pelo meu relógio mental, havíamos ficado apenas uma ou duas horas, não seria o suficiente para anoitecer, mas Timora sabe que essas coisas nunca são precisas. O frio voltou a cortar meu rosto, eu sentia meu cavanhaque endurecido e o suor do cabelo congelando. O pior ainda era aquele cheiro que não saia da minha cabeça, parecia estar sendo originado dentro do meu próprio nariz, aquilo me enojava, me fazia perder toda a atenção ao meu redor.
Percebi o sangue dos goblins mortos virando papa nos meus braços enquanto andávamos para o navio de Gavin, esperávamos que a tripulação tivesse ido para lá, mas não podíamos ter certeza. Ouvíamos os gritos de goblins e orcs nos seguindo, ou ao menos o resto do grupo ouvia, eu estava preocupado de mais segurando meu estomago e tentando vencer a neve e o terreno para prestar atenção em algo, tão preocupado com isso que só percebi as criaturas que nos rondavam quando um dos anões chamou a atenção.
Aquelas criatura me eram familiares, mas de onde? No momento que resolvi olhar na direção de uma delas para ver do que se tratava exatamente tive uma trégua do enjoo, foi como se eu olhasse para dentro do inferno, para uma existência passada em que fui devorado por esta mesma criatura que me olhava, seus olhos amarelados, seu rosnado (ou estaria sorrindo?) e sua pose ameaçadora me diziam claramente que eu estava marcado, eu conseguia escutar sua voz na minha cabeça.
“O lanche chegou, vou devorar você devagar, para poder apreciar cada sabor diferente que sairá de dentro do seu crânio”
Não sei se foi a familiaridade com a criatura ou a minha própria loucura, mas me desesperei. Tomei a frente do grupo, correndo, engatinhando, forçando minha passagem na neve para longe daqueles bichos, tudo em vão. Fui pego logo que me afastei de meus companheiros, fui mordido no braço, não com força, porém pareceu arrancar parte de mim, senti o cheiro, aquele cheiro, novamente, o hálito da criatura misturado ao cheiro de neve virgem, era este o cheiro que eu sentia.
Fui levado até uma espécie de lobo gigante, uma criatura monstruosa, rosto humanoide, garras que pareciam navalhas gigantes prontas para fazer minha barba, pescoço e coluna, havia um círculo de lobos-navalha a minha volta, alguns ogros, goblins e orcs. Não sabia se eu segurava meu orgulho ou meus intestinos, escutei a criatura falando em outra língua, uma língua infernal, uma língua que de alguma forma eu consegui compreender. Ela dizia que eu era muito fraco, que queria outro, aquele que fazia barulhos de trovão.
Claramente ela falava de um dos anões que nos haviam resgatado, ele portava uma armadura completa e utilizava um martelo que ressoava como trovões quando batia, assim que me dei conta disso as feras haviam saído da minha volta e sumido na floresta, talvez houvessem ido buscar meus amigos, era um ótimo momento para me acalmar e pensar em alguma maneira de fugir, mas um ogro me segurava fortemente.
Após alguns segundos, a calma tomou conta de mim, como sempre tomava nas situações me que era necessário utilizar minha espada para abrir caminho entre os inimigos, nunca havia me desesperado em uma situação destas. Junto com a calma, vieram as palavras, como se fossem sussurradas na minha orelha, não, dentro da minha cabeça, comecei a entoar estas palavras e toquei o ogro.
Vi um arco de eletricidade saindo de minha mão e voando em direção ao colar metálico que o monstro usava, a visão dele voando uns poucos metros me deu júbilo, uma satisfação imensa, sabia que estava livre em seguida sentia apenas o cheiro de carne e pelos queimados, era hora de sair daquele lugar e procurar minha rota até o barco.
Eu fazia o melhor para me esconder, mas algo me achou. Tão logo senti a mão no meu punho quis golpear com a espada, grande e desajeitada para ser utilizada com apenas uma mão, mas seria o suficiente para acertar a criatura. Ao virar a cabeça para soltar o golpe vi que era outro dos anões, ele havia vindo me ajudar e agora me puxava e me guiava pela neve, cobrimos em pouco tempo o terreno que nos separava de seu irmão.
Chegamos ao local onde o anão com armadura estava, ele lutava costa a costa com um Drow (o que diabos ele estava fazendo ali?), mas um drow lutando nas suas costas passa a ser um ótimo aliado se ele estiver de costas para você. O elfo negro repelia diversos inimigos enquanto o mestre do trovão estava engajado com apenas um, o lobo-navalha maior que falara comigo antes.
O lobo estava com a boca envolvendo o punho do anão, dificultando seus golpes, o pelo amarelo-negro balançando com o movimento, os olhos amarelados brilhando de raiva, eu sabia que a qualquer momento ele iria em direção ao rosto do anão, que aquilo era apenas uma manobra de ataque, que a criatura não era somente inteligente, mas sim um estrategista brilhante, eu sabia.
Mas a calma estava em mim e a voz na minha cabeça me dizia (na mesma linguagem infernal) para atacar a criatura, ressoei as palavras que me vinham e ataquei. Uma adaga passou ao meu lado e vi quando ela entrou fundo no pescoço do lobo, assim que ele piscou os olhos como se sentisse dor enfiei uma espada funda em sua barriga, senti um liquido gosmento escorrendo e espirrando, meu rosto foi respingado (que sensação ótima) e minha lâmina lubrificada. A criatura soltou o anão apenas para levar uma martelada ao lado esquerdo da face, o que a fez rolar.
A fera rolou e eu estava pronto para golpear novamente quando escutei o anão que havia me resgatado rogando “não, isso não!”, me virei para ver o que estava acontecendo bem a tempo de obervar o grande martelo caindo ao chão e fazendo o mundo tremer, consegui me manter de pé, o chão parou, e então veio a avalanche.
Tudo aconteceu em menos de dez segundos, as criaturas sumiram (“vou voltar, vou pegar você”) e logo estávamos correndo para o navio voador que já vinha em nossa direção, a tripulação nos puxou para cima enquanto observávamos a neve cobrindo a horda que nos perseguia. Ninguém hesitou subir ao barco, com exceção do elfo negro, mas por quê? Não era aliado dos anões? Não lutara junto conosco? Não queria pensar nisso naquele momento, queria apenas subir ao convés e vomitar, afinal, o cheiro voltara as minhas narinas e eu precisava me livrar daquilo."

Créditos do texto ao Rodrigo Boros.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os Bons Companheiros - Parte 2


O grupo de caça comemorava. O grande rothé estava morto, abatido por vários ferimentos à lança. Mas o golpe final fora dado pelo principal caçador da tribo, Torugg.
O animal tinha cerca de 3 metros de altura, e quase o dobro de comprimento. Forte, e com sua pelagem grossa, era comum nas regiões montanhosas. Pelo menos enquanto as revoadas de dragões permanecessem longe. Os longos chifres, enrolados como os de um bode, mas muito mais resistentes, renderiam boas facas. Talvez até uma ponta de lança. Quando cercou o animal, Torugg sabia que ele iria empinar e tentar pisoteá-lo. O orc apareceria perto demais para o animal poder tentar atacá-lo com os chifres.
Quando as grandes patas golpearam o ar, Torugg posicionou a lança e segurou firme. O peso do enorme animal fez o resto.
Agora o orc admirava a bela carcaça, enquanto os demais caçadores se aproximavam para começar o trabalho de carnear o animal.
O frio cortava, embora o grupo estivesse acostumado. Viviam nas montanhas a gerações, desde que os humanos os expulsaram das terras mais baixas. Torugg odiava os humanos por isso, assim como seu pai e o pai dele também haviam odiado.
O som repentino assustou os orcs, que saltaram de armas em mãos. Logo outros sons seguiram, sons de trovão. A oeste, raios púrpura criaram teias pelo céu estrelado, e então um negrume, mais escuro que a noite, se formou acima do deserto. As estrelas se esconderam por detrás das sombras, e ao longe os guerreiros orcs podiam ver a forma que surgiu no céu noturno.
Entreolharam-se, e sem qualquer palavra, correram de volta para sua tribo, abandonando a bela presa para congelar na neve que cairia em breve.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Os Bons Companheiros - Parte I

Algumas histórias começam por puro acaso. Esta foi uma delas. Como ela acaba, ainda não sei. Mas posso contar como começa...


Os últimos dias da Nevasca foram marcados por céus tumultuosos. É bem verdade que esta é uma época de tempestades e mudanças bruscas no clima, com rajadas de vento súbitas, acompanhadas de chuva gélida e às vezes até neve. Mas a tempestade na última dezena do ano foi fora do normal. Nuvens negras, carregadas por ventos velozes vindos do Anauroch, espalharam-se sobre todo o norte e as terras centrais, escondendo o céu estrelado.
A tempestade atingiu os habitantes dos Vales com força. Árvores foram torcidas e arrancadas pela raiz. Telhados de madeira se desfizeram, sendo levados pelo vento como folhas secas. Até mesmo um celeiro, grande e não muito antigo, foi ao chão, derrubado por uma rajada particularmente forte de vento.
Os clientes habituais da Estalagem do Velho Crânio bebiam e riam. Apoiado no balcão, um homem grisalho contava uma história engraçada. O protagonista da história, também rindo, dizia que as coisas tinham acontecido diferente, que a história era um absurdo mentiroso, mas por mais que tentasse, não conseguia se explicar, e mais gargalhadas eram ouvidas a cada tentativa.
Nem todos os presentes eram conhecidos de Jhaele, a proprietária. Ela podia perceber algumas pessoas que se destacavam das demais. A uma mesa perto do fundo da taverna sentavam-se um humano jovem, porém forte, de cabelos compridos e olhar desconfiado, e seu companheiro, um gnomo. Este olhava tudo com atenção, quase como se esperasse ser surpreendido, embora parecesse bastante relaxado em sua cadeira.
Ao balcão também havia uma figura desconhecida. Humano, com certeza com menos de 20 anos. Pouco mais do que um garoto. Mãos enluvadas e uma grossa capa para proteger do frio. A caneca de cerveja estava vazia há algum tempo, Jhaele sabia. Mas o rapaz continuava com ela. A estalajadeira conhecia esse tipo. Disfarça que está bebendo, porém sem colocar uma gota de álcool na boca. Sem dúvida estava procurando alguém. Ou alguma coisa. E normalmente isso significava problemas.
Não que Jhaele se preocupasse com isso. Apesar de velhos, boa parte de seus clientes eram bem capazes de se defender, e ela tinha amizade suficiente com todos eles para saber que seu estabelecimento estava seguro. Para ser sincero, a própria Jhaele seria bem capaz de se garantir, caso algum engraçadinho resolvesse criar problemas no Velho Crânio. Alguém pediu mais cerveja, e ela deixou a preocupação de lado. Há anos o Vale das Sombras estava em paz, e estava frio demais esta noite, até mesmo para os problemas.
E então as janelas explodiram.




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A Idade da Fúria

A noite já ia alta, e a temperatura caía cada vez mais. Sobre as montanhas, o céu se mostrava extremamente limpo, sem nuvem alguma. Inúmeras estrelas clareavam a noite, sua luz mostrando o contorno das outras montanhas, que podiam ser vistas do pequeno patamar que se lançava da entrada de uma caverna, de onde vinham vozes que deixavam o ar carregado de tensão:
_ Não! Seu plano é ridículo. Me recuso a participar dele.
_ Tolo! É isso que você é. Seu gosto pela comida deles afetou sua mente, Prateado.
_ Quem é você para vir aqui e dizer que a MINHA mente está afetada, Klauth? Essa sua idéia é ultrajante, embora isso não seja uma surpresa, vindo de você.
Agora um pequeno ponto de luz começava a aparecer dentro da caverna, se tornando maior enquanto as vozes se aproximavam da entrada:
_ Devo presumir que você não me ajudará então. Bom, não posso dizer que isso me entristeça. _ Falou Klauth, com um sorriso de desdém no rosto, agora iluminado pela luz clara das estrelas. No momento, estava com a aparência de um elfo. Ou pelo menos de como ele achava que um elfo deveria ser. As orelhas um tanto maiores do que o normal dos elfos, e o cabelo claro tão comprido que chegava à altura de seus joelhos. Os olhos, muito vivos, pareciam queimar, sendo suas pupilas da cor de magma quente. E como um toque final em sua imagem um tanto impressionante, Klauth ostentava diversas tatuagens vermelhas na pele clara de seu rosto, sendo todas imbuídas de significado e poder arcano. _ Você acha mesmo que os humanos podem continuar dessa maneira, velhote? Pare e pense um pouco. Eles estão decaindo, cada vez mais. E agora, estes vultos vêm de seu plano sombrio para tomar Faerun. Ora, se alguém deve dominar isso tudo _ o elfo agora estava de braços abertos, mostrando o lugar à sua volta. O vento balançava seu cabelo, dando-lhe um ar ainda mais sobrenatural _ que seja nossa raça. Que os humanos, os anões e os elfos _ um sorriso maldoso lhe tomou o rosto, enquanto sinalizava para si mesmo _ voltem à posição de onde nunca deveriam ter saído. De gado. Gado e criados. Que os dragões governem Faerun novamente.
_ Maldito seja, Velho Rosnado. _ um menino loiro, de não mais que 12 anos de idade encarava Klauth com uma confiança tremenda, desafiando toda e qualquer autoridade que o outro julgasse ter _ seu plano é um ultraje, assim como sua presença em minha morada. Não tomarei parte nisso, e tampouco permitirei que você siga adiante com suas idéias.
_ Quem diabos você pensa que é, _ o elfo agora estava mudando, crescendo e assumindo sua real forma _ Prateado? _ a voz agora saia com escárnio, vindo de um dragão vermelho de tamanho assombroso _ Se não concorda comigo, está contra mim. E garanto a você que essa não é uma boa escolha. Muitos dos seus já aderiram ao meu plano. E todos os cromáticos estão ao meu lado. Quer lutar por seus cozinheiros? Que seja, faça como quiser. Tolo.
_ Não ouse me insultar novamente em minha morada, Vermelho. Ou será a última coisa que você fará. E quanto ao seu plano de usurpar o poder, _ agora era a vez do menino começar a aumentar de tamanho e mudar _ ESQUEÇA. Dessa vez você foi longe demais, e seu plano morre aqui, junto com você. _ Agora um dragão prateado ocupava o lugar onde antes se encontrava o garoto. O mesmo abriu as asas, enquanto se preparava para soprar toda a fúria de uma tempestade de neve sobre o dragão vermelho, que o encarava com um sorriso de desdém e malícia.
_ Imaginei que você faria isso. Bom, pensando bem, melhor assim. _ O dragão se lançou contra o outro, no momento em que uma nuvem gigantesca de vento e cristais de gelo vinha em sua direção. Porém a nuvem foi detida por outros três jorros de fogo, que vieram de trás do dragão vermelho, que agora cravava as garras na garganta do prateado, o qual estava atônito demais para reagir: _ acho que esqueci de mencionar que até mesmo uni os de minha cor. Sabe, a maior ironia disto tudo é que, na segunda vez que eu consigo reunir tantos dos meus, acabe repetindo o que fiz antes, na primeira. Lembra daquele clã inteiro de prateados? Mortos ninguém sabe como, uns trezentos anos atrás? Bem... _ os olhos de Klauth agora brilhavam de malícia, enquanto o outro se horrorizava com a lembrança do assassinato do maior clã de Prateados que já existiu em Faerun, e que agora fora confessado pelo Velho Rosnado. Antes que pudesse dizer algo, sentiu seu corpo ser envolvido por chamas e eletricidade.
Sua visão ficou turva, mas não antes de conseguir distinguir vários vultos circulando no ar, festejando sua derrota. Viu vermelhos, e verdes, e azuis e brancos. E finalmente, para seu desespero total, um prateado. Sentiu-se enojado nesse momento, e o desgosto lhe tomou a alma. Desgosto que o acompanharia por toda a eternidade, até o fim dos tempos.
Com duas patas sobre o corpo sem vida de Kaberhym o Prateado, senhor dos Picos da Tempestade, Klauth urrou de satisfação, enquanto declarava iniciada a Idade da Fúria, quando os Dragões roubariam para si o poder sobre toda a terra entre a Costa da Espada e o Ermo Infindável.