A noite já ia alta, e a temperatura caía cada vez mais. Sobre as
montanhas, o céu se mostrava extremamente limpo, sem nuvem alguma.
Inúmeras estrelas clareavam a noite, sua luz mostrando o contorno
das outras montanhas, que podiam ser vistas do pequeno patamar que se
lançava da entrada de uma caverna, de onde vinham vozes que deixavam
o ar carregado de tensão:
_ Não! Seu plano é ridículo. Me recuso a participar dele.
_ Tolo! É isso que você é. Seu gosto pela comida deles afetou sua
mente, Prateado.
_ Quem é você para vir aqui e dizer que a MINHA mente está
afetada, Klauth? Essa sua idéia é ultrajante, embora isso não seja
uma surpresa, vindo de você.
Agora um pequeno ponto de luz começava a aparecer dentro da caverna,
se tornando maior enquanto as vozes se aproximavam da entrada:
_ Devo presumir que você não me ajudará então. Bom, não posso
dizer que isso me entristeça. _ Falou Klauth, com um sorriso de
desdém no rosto, agora iluminado pela luz clara das estrelas. No
momento, estava com a aparência de um elfo. Ou pelo menos de como
ele achava que um elfo deveria ser. As orelhas um tanto maiores do
que o normal dos elfos, e o cabelo claro tão comprido que chegava à
altura de seus joelhos. Os olhos, muito vivos, pareciam queimar,
sendo suas pupilas da cor de magma quente. E como um toque final em
sua imagem um tanto impressionante, Klauth ostentava diversas
tatuagens vermelhas na pele clara de seu rosto, sendo todas imbuídas
de significado e poder arcano. _ Você acha mesmo que os humanos
podem continuar dessa maneira, velhote? Pare e pense um pouco. Eles
estão decaindo, cada vez mais. E agora, estes vultos vêm de seu
plano sombrio para tomar Faerun. Ora, se alguém deve dominar isso
tudo _ o elfo agora estava de braços abertos, mostrando o lugar à
sua volta. O vento balançava seu cabelo, dando-lhe um ar ainda mais
sobrenatural _ que seja nossa raça. Que os humanos, os anões e os
elfos _ um sorriso maldoso lhe tomou o rosto, enquanto sinalizava
para si mesmo _ voltem à posição de onde nunca deveriam ter
saído. De gado. Gado e criados. Que os dragões governem Faerun
novamente.
_ Maldito seja, Velho Rosnado. _ um menino loiro, de não mais que 12
anos de idade encarava Klauth com uma confiança tremenda, desafiando
toda e qualquer autoridade que o outro julgasse ter _ seu plano é um
ultraje, assim como sua presença em minha morada. Não tomarei parte
nisso, e tampouco permitirei que você siga adiante com suas idéias.
_ Quem diabos você pensa que é, _ o elfo agora estava mudando,
crescendo e assumindo sua real forma _ Prateado? _ a voz agora saia
com escárnio, vindo de um dragão vermelho de tamanho assombroso _
Se não concorda comigo, está contra mim. E garanto a você que essa
não é uma boa escolha. Muitos dos seus já aderiram ao meu plano. E
todos os cromáticos estão ao meu lado. Quer lutar por seus
cozinheiros? Que seja, faça como quiser. Tolo.
_ Não ouse me insultar novamente em minha morada, Vermelho. Ou será
a última coisa que você fará. E quanto ao seu plano de usurpar o
poder, _ agora era a vez do menino começar a aumentar de tamanho e
mudar _ ESQUEÇA. Dessa vez você foi longe demais, e seu plano morre
aqui, junto com você. _ Agora um dragão prateado ocupava o lugar
onde antes se encontrava o garoto. O mesmo abriu as asas, enquanto se
preparava para soprar toda a fúria de uma tempestade de neve sobre o
dragão vermelho, que o encarava com um sorriso de desdém e malícia.
_ Imaginei que você faria isso. Bom, pensando bem, melhor assim. _ O
dragão se lançou contra o outro, no momento em que uma nuvem
gigantesca de vento e cristais de gelo vinha em sua direção. Porém
a nuvem foi detida por outros três jorros de fogo, que vieram de
trás do dragão vermelho, que agora cravava as garras na garganta do
prateado, o qual estava atônito demais para reagir: _ acho que
esqueci de mencionar que até mesmo uni os de minha cor. Sabe, a
maior ironia disto tudo é que, na segunda vez que eu consigo reunir
tantos dos meus, acabe repetindo o que fiz antes, na primeira. Lembra
daquele clã inteiro de prateados? Mortos ninguém sabe como, uns
trezentos anos atrás? Bem... _ os olhos de Klauth agora brilhavam de
malícia, enquanto o outro se horrorizava com a lembrança do
assassinato do maior clã de Prateados que já existiu em Faerun, e
que agora fora confessado pelo Velho Rosnado. Antes que pudesse dizer
algo, sentiu seu corpo ser envolvido por chamas e eletricidade.
Sua visão ficou turva, mas não antes de conseguir distinguir vários
vultos circulando no ar, festejando sua derrota. Viu vermelhos, e
verdes, e azuis e brancos. E finalmente, para seu desespero total, um
prateado. Sentiu-se enojado nesse momento, e o desgosto lhe tomou a
alma. Desgosto que o acompanharia por toda a eternidade, até o fim
dos tempos.
Com duas patas sobre o corpo sem vida de Kaberhym o Prateado, senhor
dos Picos da Tempestade, Klauth urrou de satisfação, enquanto
declarava iniciada a Idade da Fúria, quando os Dragões roubariam
para si o poder sobre toda a terra entre a Costa da Espada e o Ermo
Infindável.
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