sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Os Bons Companheiros - Parte I

Algumas histórias começam por puro acaso. Esta foi uma delas. Como ela acaba, ainda não sei. Mas posso contar como começa...


Os últimos dias da Nevasca foram marcados por céus tumultuosos. É bem verdade que esta é uma época de tempestades e mudanças bruscas no clima, com rajadas de vento súbitas, acompanhadas de chuva gélida e às vezes até neve. Mas a tempestade na última dezena do ano foi fora do normal. Nuvens negras, carregadas por ventos velozes vindos do Anauroch, espalharam-se sobre todo o norte e as terras centrais, escondendo o céu estrelado.
A tempestade atingiu os habitantes dos Vales com força. Árvores foram torcidas e arrancadas pela raiz. Telhados de madeira se desfizeram, sendo levados pelo vento como folhas secas. Até mesmo um celeiro, grande e não muito antigo, foi ao chão, derrubado por uma rajada particularmente forte de vento.
Os clientes habituais da Estalagem do Velho Crânio bebiam e riam. Apoiado no balcão, um homem grisalho contava uma história engraçada. O protagonista da história, também rindo, dizia que as coisas tinham acontecido diferente, que a história era um absurdo mentiroso, mas por mais que tentasse, não conseguia se explicar, e mais gargalhadas eram ouvidas a cada tentativa.
Nem todos os presentes eram conhecidos de Jhaele, a proprietária. Ela podia perceber algumas pessoas que se destacavam das demais. A uma mesa perto do fundo da taverna sentavam-se um humano jovem, porém forte, de cabelos compridos e olhar desconfiado, e seu companheiro, um gnomo. Este olhava tudo com atenção, quase como se esperasse ser surpreendido, embora parecesse bastante relaxado em sua cadeira.
Ao balcão também havia uma figura desconhecida. Humano, com certeza com menos de 20 anos. Pouco mais do que um garoto. Mãos enluvadas e uma grossa capa para proteger do frio. A caneca de cerveja estava vazia há algum tempo, Jhaele sabia. Mas o rapaz continuava com ela. A estalajadeira conhecia esse tipo. Disfarça que está bebendo, porém sem colocar uma gota de álcool na boca. Sem dúvida estava procurando alguém. Ou alguma coisa. E normalmente isso significava problemas.
Não que Jhaele se preocupasse com isso. Apesar de velhos, boa parte de seus clientes eram bem capazes de se defender, e ela tinha amizade suficiente com todos eles para saber que seu estabelecimento estava seguro. Para ser sincero, a própria Jhaele seria bem capaz de se garantir, caso algum engraçadinho resolvesse criar problemas no Velho Crânio. Alguém pediu mais cerveja, e ela deixou a preocupação de lado. Há anos o Vale das Sombras estava em paz, e estava frio demais esta noite, até mesmo para os problemas.
E então as janelas explodiram.




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